Imagine Napoleão. Eu. Como tal devo ser respeitado. Banquetes coloridos eram meus coquetéis. Tenho mesa farta e bons amigos para festejar. Mas não hoje. Hoje estou de ressaca. Estes deveres de todo dia me cansam e atrevo-me a abrir um chileno 96 (ótima safra).
O ar quente e abafado leva às minhas narinas um cheiro doce e gorduroso, e com tamanha minha fome mastigo sonolento. Garfadas fartas aproximam a veracidade neste parágrafo.
Gosto de marchar diante de maus súditos, falar-lhes coisas apaziguadoras. Só não entendo por quê me olham torto. Será que me acham maluco? Audácia destes camponeses, depois de tudo que fiz por eles! Nada! Eles também sempre me fizeram nada e nem por isso esqueci deles. *ic*!
Como se já não bastassem as traições, agora não temos mais dinheiro. A cidade ferve em rebeliões e me olham com pena e nojo. Meus inimigos sentam-se junto à mesa comigo todos os dias, dentro de taças ou garrafas recicladas. *ic*!
Tento achar em sentido à vida fora desta cachaça barata, mas me deparo com um cheiro amadeirado e azedo de exclusão social. Não fui a escola, não fui educado, não tive amores, nunca recebi um presente. Entretanto já fui preso, já fui louco, comi do lixo e já apanhei para diversão de terceiros.
Fugi. Agora sou Napoleão e vivo nos becos desta cidade acompanhado da única coisa que não me abandonou. O Vício.
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