terça-feira, 18 de novembro de 2014

Interesses.

   Espalhafatosa e de olhos exageradamente delineados, entra a perua do hall da pequena capela de São Leonardo, disparando palavras ao padre.
   -Você é o dono dessa espelunca aqui?
   -Hein?
   -Me desculpe a honestidade, é que não sou de mentir. Sabia que é pecado?
   -...!
   -Enfim. Eu vim aqui resolver de forma adulta o drama que tenho vivido.- olha para o altar atrás do de Jesus- Nossa! Olha aquela estátua, do bofe morto. De frente pra porta é mau feng-shui...
   -Senhora! mais respeito na casa de Deus!
   -É ele então o culpado.
   -Quê?
   -Ele!
   -Quem?
   -Deus!
   -Hã?
   -Sim.
   Como um sinal de trânsito, o rosto do padre foi aquecendo enquanto ela continuava.
   -Seis da noite e me aparece esse tal Deus fazendo a maior algazarra. Não sei como funcionam as coisas aqui nesse fim de mundo mas em Parrí não existia isto, não. Vai contra o meu sono da tarde. Além do mais, meu marido é dono de metade (disso) daqui, acho que como primeira dama desta cidade, tenho direito a um mínimo de respeito.
   -Mas dona, não se pode mudar o horário da nossa oração. isto seria como rê-escrever a Gênese! não seja ridícula.
   -Seu padre... a situação é a seguinte: eu tenho o poder que controla o instinto do coronel, que é quem abafa os seus segredos. Acho que Deus não gostaria nadinha de saber da sua cara-de-pau padre. Ele pode até te demitir, eu acho.
   -sete horas está bom?
   -7:30 e não se fala mais nisso.
   -Okay. Gostaria de uma taça de vinho, madame?

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